quarta-feira, 21 de novembro de 2018


EDUCAÇÃO DOS SURDOS: A PARTIR DA LEI 10.436/2002[1]

Suelí Paranhos de Oliveira[2]
INTRODUÇÃO
           
O relatório que será apresentado, parte de análise exploratória da Monografia (Trabalho de Conclusão do Curso de Especialização)/2013 – Faculdades FACCAT, de Godoi, P.; Santos M.F.; Silva, V.F. intitulado “Língua Brasileira de Sinais no Contexto Bilíngue” que traz no primeiro capítulo um breve histórico sobre a educação dos surdos; no segundo discorrem sobre a Libras (Língua Brasileira de Sinais) e sua importância para a comunicação do aluno surdo; no último capítulo dissertam sobre a proposta da escola bilíngue e o grande desafio de se construir o bilinguismo. Para a efetivação deste trabalho foram usados recursos como fichamento, análises textual e temática. O relatório a seguir terá dois capítulos. O primeiro será a presentação da monografia e o segundo o diálogo com esses dados. Logo em seguida a conclusão final e referências. 
O reconhecimento da LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais) foi um marco na história de luta das pessoas com deficiência auditiva e se faz necessário a utilização da mesma em todas as esferas de ensino numa perspectiva inclusiva. A oralização era a forma permitida para a alfabetização dos surdos por se pensar que ela iria facilitar a comunicação com os pais e sociedade, mas hoje a comunidade surda proclama o bilinguismo como a melhor forma de educação para os surdos, segundo os autores da monografia. Lendo a monografia vem a inquietação: Quais os avanços na educação dos surdos após a lei ordinária 10.436/2002 em relação ao bilinguismo?
Ao trazer os principais elementos desta monografia, o objetivo geral deste relatório é Compreender a Língua Brasileira de Sinais no contexto da escola bilíngue fazendo uso dos objetivos específicos que são: Identificar a influência da escola bilíngue para os estudos dos surdos e Enumerar os desafios na construção do bilinguismo.

CAPÍTULO I: A EDUCAÇÃO DOS SURDOS E A ESCOLA BILINGUE – BASE TEÓRICA

      A Lei 10.436/2002 foi um marco no reconhecimento da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS), após muitos anos de luta, desde o padre espanhol Bonet (1660) que criou o primeiro alfabeto manual para auxiliar na educação dos surdos até o Decreto nº 5.626/05 que regulamenta a lei 10.098/00 e a lei 10.436/02.
Durante esse processo:

 [...] foi fundado em 1857 no Rio de Janeiro o Instituto Nacional de Surdos-Mudos que hoje é o Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES). [...] Em l964, Gallaudet fundou a primeira faculdade para surdos nos Estados Unidos. A língua dos sinais tornou a ressurgir associada à forma oral, com o aparecimento de novas correntes, como a Comunicação Total na década de 70 e, mais recentemente, o Bilinguismo.
A Comunicação Total defende a utilização de todos os recursos linguísticos, orais ou visuais, simultaneamente, privilegiando a comunicação, e não apenas a língua. Já o Bilinguismo acredita que o surdo deve adquirir a língua dos sinais como língua materna, com a qual poderá desenvolver-se e comunicar-se com a comunidade de surdos, e a língua oficial de seu país como segunda língua. (GODOI, P; SANTOS, M. F; SILVA, V. F., 2013)
           
No artigo 1º da lei 10.436/02 no parágrafo único é dito que “Entende-se como Língua Brasileira de Sinais - Libras a forma de comunicação e expressão, em que o sistema linguístico de natureza visual-motora, com estrutura gramatical própria, constitui um sistema linguístico de transmissão de idéias e fatos, oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil” e no decreto nº 5.626/05, que regulamenta esta lei, consta no artigo 14 parágrafo 1º inciso I alínea c que se deve promover “o ensino da Língua Portuguesa, como segunda língua para pessoas surdas” e no inciso II “ofertar, obrigatoriamente, desde a educação infantil, o ensino da Libras e também da Língua Portuguesa, como segunda língua para alunos surdos”.
Partindo do que diz a lei, a fala de GODOI, P; SANTOS, M. F; SILVA, V. F. na monografia intitulada Língua Brasileira de Sinais no Contexto Bilíngue, se faz pertinente:

O aprendizado inicial destas crianças deve ser o da Língua de sinais. Essa é a sua primeira língua, é com ela que ela pensará e construirá seu conhecimento. A idade mínima para que uma criança possa ser exposta ao aprendizado da linguagem de sinais é a de mais ou menos seis ou sete meses, mesmo que ela só venha a utilizar estes sinais aprendidos após o sétimo ou oitavo ano com maior desenvoltura. Assim sendo, a criança deve ser introduzida desde cedo à língua materna, podendo ainda ser realizadas atividades com bebês surdos visando sempre desenvolver habilidades visuais e ensinar a linguagem de sinais-LIBRAS.

A introdução da língua de sinais desde a primeira infância trará segurança para a criança surda assim como trás para a criança ouvinte, ao ser inserida no ambiente escolar:

Desde cedo, a criança ouvinte tem a oportunidade de conviver com a língua utilizada pela família. O interlocutor adulto colabora para que a linguagem da criança flua, oportunizando atitudes discursivas que favorecem o desenvolvimento e a apropriação de aspectos socioculturais e linguísticos importantes. As crianças surdas, em geral, não têm possibilidade para esse/a desenvolvimento/apropriação, já que não tem acesso a língua utilizada por seus pais (ouvintes). (LACERDA; LODI, 2014, p.14).

Essas crianças chegam, muitas vezes, às escolas se sentindo excluídas. Os professores de educação infantil, na sua formação, têm assegurado por decreto que regulamenta a lei 10436/02 no artigo 5º do capitulo III que:

A formação de docentes para o ensino de Libras na educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental deve ser realizada em curso de Pedagogia ou curso normal superior, em que Libras e Língua Portuguesa escrita tenham constituído línguas de instrução, viabilizando a formação bilíngue.

Porém não saem dos seus cursos com plena habilidade, precisam de aprimoramento posterior.
GODOI, P; SANTOS, M. F; SILVA, V. F afirmam que “a educação para o surdo requer do professor uma metodologia baseada em experiências concretas, para tornar o aprendizado melhor aproveitado”. Dizem ainda que “as pessoas surdas têm as mesmas possibilidades de desenvolvimento das ouvintes. O que se faz necessário é a adaptação dos recursos didáticos a serem utilizados pelos professores”.
Ao falarem sobre o caminho do oralismo ao bilinguismo discorrem da seguinte forma:

[...] O oralismo somente foi estabelecido em 1911, mas de forma marginalizada.
No entanto por volta das décadas de 70 a 80 com estudos mais aprofundados acerca da surdez iniciou – se o estudo sobre a comunicação total pela pesquisadora Ivete Vasconcelos. A partir das décadas seguintes com novas pesquisas da professora Luciana Ferreira Brito (1993), o bilinguismo ganhou espaço entre as instituições de ensino. Em 1994 propôs-se a abreviação para LIBRAS – Língua Brasileira de Sinais.

Para os oralistas, a linguagem oral é a única forma de comunicação já o bilinguismo tem como objetivo “aproximar e facilitar a comunicação entre crianças surdas e a família ouvinte. O básico desta filosofia é o aprendizado da língua materna e natural (de sinais) e como a segunda a oficial do país (para nós o português brasileiro).”, diz GODOI, P; SANTOS, M. F; SILVA, V. F (2013).
Já que:
As crianças com deficiência auditiva apresentam alguns dos problemas mais difíceis e desafiantes para a educação especial. A perda auditiva interfere tanto da recepção da linguagem quanto na sua produção. [...]. (GODOI, P; SANTOS, M. F; SILVA, V. F. apud KIRK/GALLAGHER, 1996, P.230).

Nas escolas inclusivas o ambiente (físico, metodológico e curricular) foi mudado para recebê-la, porém não foi preparado para tal:
Incluir não é tratar igual, pois as pessoas são diferentes. Alunos diferentes terão oportunidades diferentes, para que o ensino alcance os mesmos objetivos. Incluir é abandonar estereótipos. (GODOI, P; SANTOS, M. F; SILVA, V. F. apud WERNECK, 1997, p.51).

Essas escolas têm, em sua maioria, interpretes de Libras, que apesar de ser uma grande conquista não garante a inclusão de fato:

[...] ao convocar a presença de um intérprete de Línguas de Sinais, as pessoas não se dão conta da complexidade que envolve a realização dessa tarefa, pois não é suficiente conhecer os sinais, e sim saber transmitir idéias da língua oral para a língua visuogestual e vice e versa. Os interpretes representam a ponte entre dois mundos diferentes, o mundo visual dos surdos e o mundo oral dos ouvintes. (GODOI, P; SANTOS, M. F; SILVA, V. F. apud ROSA, 2003, p.1238).

         Para os autores da monografia, as escolas regulares deveriam estar preparadas para aplicar os conteúdos através de “recursos visuais”, o que facilitaria a aprendizagem dos alunos surdos e o trabalho dos interpretes, para eles também existe a possibilidade de profissionais surdos inseridos na escola ajudarem aos professores com a divulgação da Libras.

O professor precisa está preparado para receber esta diferença, não adianta ser especialista e não está apto para dar significado a esta aprendizagem:

[...] deveremos nos questionar se a escola inclusiva tem essa conotação a partir de adaptações curriculares ou da conscientização dos profissionais envolvidos no processo educativo? Os alunos têm que aprender juntos sempre que possível, mas a instituição de ensino tem que assegurar condições para que esse processo seja concluído. Mas não vamos atribuir toda culpa à escola, pois ela é apenas a ponta do “iceberg”. Os Estados e Municípios deveriam assegurar que essas instituições tivessem condições necessárias para o atendimento aos educandos com necessidades educacionais especiais. Na fala de um professor entrevistado, o processo da Escola Inclusiva fica caracterizado como “atropelado”. De certa forma, no caso os professores designados pelo Estado, estes chegam até a escola sem ter conhecimento do que vão encontrar. Nesse caso, nota-se a falta de compromisso do órgão gestor, que não se preocupa em garantir que esses educandos tenham um atendimento adequado as suas necessidades (GODOI, P; SANTOS, M. F; SILVA, V. F. apud FREITAS, 2001, p. 25).

Os autores explicam o motivo de sua defesa ao bilinguismo:

As línguas naturais têm a importante função de suporte do pensamento, função esta frequentemente ignorada por especialistas envolvidos na educação do surdo que consideram a língua apenas como meio de comunicação. (...) As Línguas de Sinais, por serem naturais e de fácil acesso para os surdos, são extremamente importantes para o preenchimento da função cognitiva e suporte do pensamento. (GODOI, P; SANTOS, M. F; SILVA, V. F. apud BRITO, 1993, p. 34).
            Para melhor entendimento do aluno surdo em relação à língua portuguesa os autores são enfáticos em dizer:

Antes de qualquer trabalho na modalidade leitura e escrita, o professor precisa entender que o diálogo prévio do que será apresentado em sala de aula é fundamental para aprendizagem do aluno surdo e esse diálogo deve ser apresentado em LIBRAS o que é imprescindível para a compreensão por parte do aluno, pois mais tarde ele transportará para a segunda língua que é a Língua Portuguesa. O professor regente deverá ter o cuidado de disponibilizar um tempo para sondar esse aluno a fim de verificar se houve mesmo essa compreensão e assim poder sanar as dúvidas apresentadas pelo aluno. (GODOI, P; SANTOS, M. F; SILVA, V. F., 2013).

            Ao falarem sobre os desafios do bilinguismo, GODOI, P; SANTOS, M. F e SILVA, V. F., começam dizendo que “é um assunto que ainda gera muita polêmica, porque sobre o que diz respeito a uma escola bilíngue nosso sistema educacional ainda não está adequadamente preparado”. E citam ZIMMER, FINGER & SCHERER (2008, p.2) para paramentar seu pensamento:
O bilinguismo apresenta muitas formas e configurações e as diferentes classificações de bilinguismo variam dependendo das dimensões linguísticas, cognitivas, sociais e de desenvolvimento que são consideradas como foco de atenção.
            Complementam expressando-se sobre “a grande falta de preparação dos profissionais envolvidos nessa área” e sobre as linhas de pesquisa que conflitam sem deixar claro o quanto o bilinguismo é importante para a criança surda:

Existem atualmente, algumas divergências relacionadas à inclusão dos alunos surdos, visto que, para alguns, a escola especial é segregadora, pois os alunos isolam-se cada vez mais, e os resultados obtidos não são os esperados. Já para outros, essa escola enaltece a comunidade surda, sua cultura e sua identidade, enfatizando que esse espaço de aquisição de uma língua efetiva promove o desenvolvimento cognitivo da criança. O importante é a interação entre as duas línguas, para que a criança cresça, desenvolvendo suas capacidades cognitivas, linguísticas, afetivas e políticas, independentemente do espaço escolar no qual está inserida. Para isso, é necessário conhecer os sujeitos na sua singularidade linguística e reconhecer que os alunos surdos precisam de uma educação específica. O ideal é que a criança adquira primeiro a língua de sinais e, depois a língua portuguesa para que facilite a sua compreensão, uma vez que o aprendiz da segunda língua utiliza a primeira como estratégia da aprendizagem (GODOI, P; SANTOS, M. F e SILVA, V. F. apud KUBASKI & MORAES, 2009, p.14).

            Concordam com as idéias de KUBASKI & MORAES, 2009, p.14, mas reforçam que “para um desenvolvimento crítico de uma criança ela deve estar exposta às mais variadas culturas e estilos de vida, já que nossa sociedade é rica culturalmente”.
Junto a esta idéia complementam informando que existe “outro argumento que reforça a importância do bilinguismo e incentiva os pesquisadores a desenvolverem meios de vencer esse desafio, é a questão da vida do surdo como cidadão”, e este tem que estar preparado com o aprendizado das duas línguas. Citam Lerner (2002) “Cabe à escola então o papel de formar cidadãos leitores e escritores” para complementar que só assim os surdos terão a capacidade de viver uma vida normal.
Que há “outra missão considerada um grande desafio, aquela de desenvolver uma identidade na pessoa surda sem excluí-la da sociedade” e respaldando-se citam KUBASKI & MORAES, (2009, p. 15):

O bilinguismo permite que, dada a relação entre o adulto e a criança, esta possa construir uma autoimagem positiva como sujeito surdo, sem perder a possibilidade de se integrar numa comunidade de ouvintes. A proposta bilíngue possibilita ao leitor surdo fazer uso das duas línguas, escolhendo a qual irá utilizar em cada situação.

Nas suas considerações finais os autores da monografia “Língua Brasileira de Sinais no Contexto Bilíngue” concluem que:

A educação da língua de sinais possibilita a aprendizagem e não a dificuldade do aluno surdo. No Brasil a educação hoje defendida para os alunos surdos é a educação bilíngue [...] O objetivo do atendimento ao aluno surdo é proposto por um currículo diferenciado, [...] sem perder a sintonia com a proposta das Diretrizes Curriculares da Educação Geral. [...] Podemos chegar à conclusão de que houve mudanças positivas a respeito da inclusão de surdos na sociedade, mas existem ainda grandes desafios a serem enfrentados. Um deles é criar uma proposta educacional bilíngue que atinja toda a população por conta da dificuldade na preparação e qualificação dos profissionais envolvidos, e maiores ainda é a dificuldade de preparar as pessoas que não estão ligadas à educação para essa nova proposta prevista em lei. (GODOI, P; SANTOS, M. F e SILVA, V. F., 2013).

CAPÍTULO II: DIÁOLOGO COM O CONHECIMENTO TEÓRICO

            A monografia que deu base a este relatório, fala muito bem sobre a trajetória educacional das pessoas com deficiência auditiva. Para termos dimensão desta luta, saber sobre os caminhos percorridos, dificuldades encontradas e objetivos atingidos, reforçam o nosso compromisso com o aprendizado e inclusão desta comunidade na sociedade.
            A introdução da língua materna dos surdos deste a primeira infância lhe trará mais identidade. Os profissionais das escolas bilingues precisam ser comprometidos com a educação como um todo se preocupando com a adaptação dos currículos. De acordo com o Referencial Nacional para Educação Infantil (RCNEI) no seu primeiro volume a convivência das crianças dentro das escolas favorecerá tanto o desenvolvimento quanto a aprendizagem e para as crianças com necessidades especiais este convívio “representa uma inserção de fato no universo social”.
            As experiências concretas, descritas pelos autores da monografia será de suma importância para a valorização destas crianças, elas não se sentirão excluídas, pois participarão de todas as atividades juntamente com os outros alunos da escola.
            Concordo com os autores da monografia ao citarem WERNECK (1997, p.51), quando ele fala que incluir vai muito além do que tratar igual. Incluir é respeitar seus limites sem estereotipar. Os professores precisam ter a formação bilingue porque apesar da presença de interpretes de Libras em sala e estes representarem a “ponte entre os dois mundos”, na maioria das vezes não estão preparados para transmitir as “idéias da língua oral” e terminam confundindo as crianças por utilizarem o português sinalizando.
            Muitos docentes estão envolvidos no processo de inclusão, mas precisam de preparação extra para lidar com essas crianças. Os alunos surdos precisam primeiro conhecer os assuntos que serão dados na sala de aula na sua língua materna para depois passarem para a segunda língua oficial que é o português. As duas línguas precisam interagir para que os surdos tenham uma e outra a seu dispor podendo usá-las da forma que melhor lhes convier.
           
CONSIDERAÇÕES FINAIS

            O modelo bilingue precisa ser inserido deste a primeira infância ainda durante o convívio familiar e os pais ao descobrirem seus filhos surdos devem procurar apoio institucional para aprenderem a língua junto com eles.
O reconhecimento da Libras através de lei e decreto regulamentar foi um grande avanço para a inserção do surdo na sociedade, mas as escolas e os profissionais que lidam com as crianças surdas precisam se aperfeiçoar cada vez mais, mesmo tendo por lei o direito a educação complementar em Libras enquanto cursam a faculdade de pedagogia. A inserção de profissionais surdos na comunidade escolar ajudará e muito o desenvolvimento dos professores e docentes. Apesar de muitos acreditarem que crianças surdas em escolas comuns estão passando por inclusão, vejo isso apenas como integração. A inclusão se daria de fato se toda comunidade estivesse voltada para o desenvolvimento deste aluno com professores surdos no ambiente escolar. Na escola bilingue o português será usado como base para a língua de sinais e é preciso assumir o compromisso de uso das duas línguas dentro do espaço escolar.
As escolas deveriam ter profissionais de Atendimento Educacional Especializado (AEE) para trabalharem diretamente com essas crianças em sala de aula e, com os professores no contra turno em dias alternados.
            Em conversa informal com a mãe de duas crianças surdas, fui informada que a Associação de Pais e Amigos de Deficientes Auditivos (APADA) é uma organização não governamental que trabalha com crianças com surdez total ou parcial do 1º ao 4º ano e que dentro da instituição existem muitos profissionais surdos. Além de trabalharem com a Libras em sala de aula, o ensino de português é oferecido em língua portuguesa (L2). A instituição também oferece cursos de Libras a todo profissional, de qualquer área, que se interessar. “Pode-se considerar a inserção de duas línguas em sala de aula como bilingue, porém ainda a um longo caminho a percorrer” disse ela.
            Em outra conversa informal com uma docente do 5º ano da escola pública, ela disse que tem em sala uma aluna com surdez leve, mas segundo os médicos, progressiva, que vem ensinando a Libras aos colegas e a ela. Todas as crianças se interessam em saber e fazem muitas perguntas e, ela como professora sentiu a necessidade de se aprofundar no estudo da língua.
            A partir de Idéia Legislativa “Libras como disciplina na escola pública”, tramita no Senado Federal, desde 12 de julho, a SUGESTÃO nº 15 de 2018, com o mesmo tema que, sendo aprovada, será mais um passo para a introdução do bilinguismo nas escolas. Os apoios a esta sugestão pode ser efetuada pelo site do Senado Federal[3].
            Muito ainda precisa ser feito pelas instituições de ensino, mas o importante é que grandes avanços já foram conquistados.

             
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REFERÊNCIAS

 

Lei nº 10.436 - Planalto. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10436.htm>. Acesso em: 14.fev.2018.


Língua brasileira de sinais no contexto da escola bilíngue - Brasil Escola
Disponível em: <https://monografias.brasilescola.uol.com.br/.../lingua-brasileira-sinais-no-contexto-esc...>. Acesso em: 04.jul.2018.

LODI, A.C.B.; LACERDA, C.B.F. – Uma escola, duas línguas: letramento em língua portuguesa e língua de sinais nas etapas iniciais de escolarização. Porto Alegre : Mediação, 2009, p.14.

Portal e-Cidadania - Senado Federal – Idéia Legislativa. Portal e-Cidadania

Disponível em: <https://www12.senado.leg.br/ecidadania/visualizacaomateria?id=133903>
<https://www12.senado.leg.br/ecidadania/visualizacaoideia?id=101953&voto=favor>. Acesso em: 10.agosto.2018.

Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil - Portal MEC

Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/rcnei_vol1.pdf>. Acesso em: 20.abril.2018.










[1] Trabalho apresentado como resultado de pesquisa desenvolvida nos Estudos Interdisciplinares, sob orientação do Prof. Eraldo Paixão.

[2] Discente do Curso de Pedagogia, 3º semestre, Faculdade Montessoriano.

[3] https://www12.senado.leg.br/ecidadania/visualizacaomateria?id=133903

terça-feira, 4 de setembro de 2018


O Despreparo Da Geração Mais Preparada – Por Eliane Brum


“A crença de que a felicidade é um direito tem tornado despreparada a geração mais preparada. Preparada do ponto de vista das habilidades, despreparada porque não sabe lidar com frustrações. Preparada porque é capaz de usar as ferramentas da tecnologia, despreparada porque despreza o esforço. Preparada porque conhece o mundo em viagens protegidas, despreparada porque desconhece a fragilidade da matéria da vida. E por tudo isso sofre, sofre muito, porque foi ensinada a acreditar que nasceu com o patrimônio da felicidade. E não foi ensinada a criar a partir da dor.
Há uma geração de classe média que estudou em bons colégios, é fluente em outras línguas, viajou para o exterior e teve acesso à cultura e à tecnologia. Uma geração que teve muito mais do que seus pais. Ao mesmo tempo, cresceu com a ilusão de que a vida é fácil. Ou que já nascem prontos – bastaria apenas que o mundo reconhecesse a sua genialidade.

Tenho me deparado com jovens que esperam ter no mercado de trabalho uma continuação de suas casas – onde o chefe seria um pai ou uma mãe complacente, que tudo concede. Foram ensinados a pensar que merecem, seja lá o que for que queiram. E quando isso não acontece – porque obviamente não acontece – sentem-se traídos, revoltam-se com a “injustiça” e boa parte se emburra e desiste.
Como esses estreantes na vida adulta foram crianças e adolescentes que ganharam tudo, sem ter de lutar por quase nada de relevante, desconhecem que a vida é construção – e para conquistar um espaço no mundo é preciso ralar muito. Com ética e honestidade – e não a cotoveladas ou aos gritos. Como seus pais não conseguiram dizer, é o mundo que anuncia a eles que: viver é para os insistentes.
Por que boa parte dessa nova geração é assim? Penso que este é um questionamento importante para quem está educando uma criança ou um adolescente hoje. Nossa época tem sido marcada pela ilusão de que a felicidade é uma espécie de direito. E tenho testemunhado a angústia de muitos pais para garantir que os filhos sejam “felizes”. Pais que fazem malabarismos para dar tudo aos filhos e protegê-los de todos os perrengues – sem esperar nenhuma responsabilização nem reciprocidade.
É como se os filhos nascessem e imediatamente os pais já se tornassem devedores. Para estes, frustrar os filhos é sinônimo de fracasso pessoal. Mas é possível uma vida sem frustrações? Não é importante que os filhos compreendam como parte do processo educativo duas premissas básicas do viver, a frustração e o esforço? Ou a falta e a busca, duas faces de um mesmo movimento? Existe alguém que viva sem se confrontar dia após dia com os limites tanto de sua condição humana como de suas capacidades individuais?
Nossa classe média parece desprezar o esforço. Prefere a genialidade. O valor está no dom, naquilo que já nasce pronto. Dizer que “fulano é esforçado” é quase uma ofensa. Ter de dar duro para conquistar algo parece já vir assinalado com o carimbo de perdedor. Bacana é o cara que não estudou, passou a noite na balada e foi aprovado no vestibular de Medicina. Este atesta a excelência dos genes de seus pais. Esforçar-se é, no máximo, coisa para os filhos da classe C, que ainda precisam assegurar seu lugar no país.
Da mesma forma que supostamente seria possível construir um lugar sem esforço, existe a crença não menos fantasiosa de que é possível viver sem sofrer. De que as dores inerentes a toda vida são uma anomalia e, como percebo em muitos jovens, uma espécie de traição ao futuro que deveria estar garantido. Pais e filhos têm pagado caro pela crença de que a felicidade é um direito. E a frustração um fracasso. Talvez aí esteja uma pista para compreender a geração do “eu mereço”.
Basta andar por este mundo para testemunhar o rosto de espanto e de mágoa de jovens ao descobrir que a vida não é como os pais tinham lhes prometido. Expressão que logo muda para o emburramento. E o pior é que sofrem terrivelmente. Porque possuem muitas habilidades e ferramentas, mas não têm o menor preparo para lidar com a dor e as decepções. Nem imaginam que viver é também ter de aceitar limitações – e que ninguém, por mais brilhante que seja, consegue tudo o que quer.
A questão, como poderia formular o filósofo Garrincha, é: “Estes pais e estes filhos combinaram com a vida que seria fácil”? É no passar dos dias que a conta não fecha e o projeto construído sobre fumaça desaparece deixando nenhum chão. Ninguém descobre que viver é complicado quando cresce ou deveria crescer – este momento é apenas quando a condição humana, frágil e falha, começa a se explicitar no confronto com os muros da realidade. Desde sempre sofremos. E mais vamos sofrer se não temos espaço nem mesmo para falar da tristeza e da confusão.
Me parece que é isso que tem acontecido em muitas famílias por aí: se a felicidade é um imperativo, o item principal do pacote completo que os pais supostamente teriam de garantir aos filhos para serem considerados bem sucedidos, como falar de dor, de medo e da sensação de se sentir desencaixado? Não há espaço para nada que seja da vida, que pertença aos espasmos de crescer duvidando de seu lugar no mundo, porque isso seria um reconhecimento da falência do projeto familiar construído sobre a ilusão da felicidade e da completude.
Quando o que não pode ser dito vira sintoma – já que ninguém está disposto a escutar, porque escutar significaria rever escolhas e reconhecer equívocos – o mais fácil é calar. E não por acaso se cala com medicamentos e cada vez mais cedo o desconforto de crianças que não se comportam segundo o manual. Assim, a família pode tocar o cotidiano sem que ninguém precise olhar de verdade para ninguém dentro de casa.
Se os filhos têm o direito de serem felizes simplesmente porque existem – e aos pais caberia garantir esse direito – que tipo de relação pais e filhos podem ter? Como seria possível estabelecer um vínculo genuíno se o sofrimento, o medo e as dúvidas estão previamente fora dele? Se a relação está construída sobre uma ilusão, só é possível fingir.
Aos filhos cabe fingir felicidade – e, como não conseguem, passam a exigir cada vez mais de tudo, especialmente coisas materiais, já que estas são as mais fáceis de alcançar – e aos pais cabe fingir ter a possibilidade de garantir a felicidade, o que sabem intimamente que é uma mentira porque a sentem na própria pele dia após dia. É pelos objetos de consumo que a novela familiar tem se desenrolado, onde os pais fazem de conta que dão o que ninguém pode dar, e os filhos simulam receber o que só eles podem buscar. E por isso logo é preciso criar uma nova demanda para manter o jogo funcionando.
O resultado disso é pais e filhos angustiados, que vão conviver uma vida inteira, mas se desconhecem. E, portanto, estão perdendo uma grande chance. Todos sofrem muito nesse teatro de desencontros anunciados. E mais sofrem porque precisam fingir que existe uma vida em que se pode tudo. E acreditar que se pode tudo é o atalho mais rápido para alcançar não a frustração que move, mas aquela que paralisa.
Quando converso com esses jovens, no parapeito da vida adulta, com suas imensas possibilidades e riscos grandiosos, percebo que precisam muito de realidade. Com tudo o que a realidade é. Sim, assumir a narrativa da própria vida é para quem tem coragem. Não é complicado porque você vai ter competidores com habilidades iguais ou superiores a sua, mas porque se tornar aquilo que se é, buscar a própria voz, é escolher um percurso pontilhado de desvios e sem nenhuma certeza de chegada. É viver com dúvidas e ter de responder pelas próprias escolhas. Mas é nesse movimento que a gente vira gente grande.
Seria muito bacana que os pais de hoje entendessem que tão importante quanto uma boa escola ou um curso de línguas ou um Ipad é dizer de vez em quando: “Te vira, meu filho. Você sempre poderá contar comigo, mas essa briga é tua”. Assim como sentar para jantar e falar da vida como ela é: “Olha, meu dia foi difícil” ou “Estou com dúvidas, estou com medo, estou confuso” ou “Não sei o que fazer, mas estou tentando descobrir”. Porque fingir que está tudo bem e que tudo pode significa dizer ao seu filho que você não confia nele nem o respeita, já que o trata como um imbecil, incapaz de compreender a matéria da existência. É tão ruim quanto ligar a TV em volume alto o suficiente para que nada que ameace o frágil equilíbrio doméstico possa ser dito.
Agora, se os pais mentiram que a felicidade é um direito e seu filho merece tudo simplesmente por existir, paciência. De nada vai adiantar choramingar ou emburrar ao descobrir que vai ter de conquistar seu espaço no mundo sem nenhuma garantia. O melhor a fazer é ter a coragem de escolher. Seja a escolha de lutar pelo seu desejo – ou para descobri-lo –, seja a de abrir mão dele. E não culpar ninguém porque eventualmente não deu certo, porque com certeza vai dar errado muitas vezes. Ou transferir para o outro a responsabilidade pela sua desistência.
Crescer é compreender o fato de que na vida há faltas e isso não a torna menor. Sim, a vida é insuficiente. Mas é o que temos. E é melhor não perder tempo se sentindo injustiçado porque um dia ela acaba.
(Eliane Brum escreve às segundas-feiras na Revista Época.)


segunda-feira, 25 de junho de 2018


Memorial das baianas

O Memorial das Baianas fica localizado na Praça da Sé, no mesmo espaço da Cruz Caída e foi inaugurado em 2002. O espaço é administrado pela Associação das Baianas de Acarajé, Mingau e Similares do Estado da Bahia (ABAM) e tem como objetivo mostrar as tradições das baianas, instrumentos, quitutes e indumentárias. Trata-se de um espaço climatizado e para apresentação deste se tem uma baiana como guia.
Antes de entramos no espaço climatiza, existe um rol ou foyer com algumas fotos e nele assina-se o livro de visitas.
Nesta nossa visita, infelizmente, a baiana guia não se encontrava no espaço, mas a professora nós informou que havia um vídeo demonstrando algumas informações pertinentes ao ofício e cultura das baianas e como não pudemos assisti-lo, ficamos livres para conhecer o espaço e absorvermos o maior número de informação possível.
Chamou a minha atenção, as diversas vestimentas utilizadas pelas baianas em diferentes momentos. A da lavagem do Bonfim, que é composta por uma saia branca com roda bem aberta que provavelmente utiliza várias anáguas engomadas, acompanhada de uma bata, um turbante na mesma cor e todos bordados, além de um pano branco chamado pano da costa e colares representando orixás. O traje de passeio é mais simples com uma saia sem roda e uma bata simples com turbante, o pano da costa que na representação se encontrava no ombro, mas que também pode seu usado na cintura. A vestimenta para festa da Boa Morte é composta de saia preta, bata branca e um pano da costa preto e vermelho. O traje do candomblé está na cor vermelha para homenagear a orixá Yansã, cor essa que predomina em todo espaço inclusive nos cartazes explicativos. A baiana vendedora dos quitutes (acará, bolinho no qual se coloca os “jê” que são acompanhamentos como vatapá, camarão e por isso ficou conhecido como acarajé; abará; bolinho de estudante e cocadas) veste uma saia colorida com flores graúdas assim como uma bata branca, pano da costa amarrado a cintura e um turbante bem elaborado na cor branca e, como não podem faltar em todos os trajes os colores representando seus orixás, se encontra sentada em frente ao seu tabuleiro.
Um passeio a um espaço importante para a nossa cultura, mas que infelizmente é pouco conhecido pelos baianos e “marginalizado” por outras religiões. Não se trata de um espaço religioso e sim cultural que todas as escolas deveriam levar seus alunos para conhecê-lo. O espaço é rico em informações com cartazes explicativos e muitas fotos. Sentimos falta da nossa guia para que pudéssemos registrar o seu conhecimento sobre todo Memorial.


Resenha sobre o passeio feito ao Memorial das Baianas - Suelí Paranhos de Oliveira - Graduanda em Pedagogia.


A LIBRAS COMO INCLUSÃO SOCIAL E PEDAGÓGICA NO FUNDAMENTAL I

Edvania de Jesus Lima
Selma Ferreira
Suelí Paranhos de Oliveira

INTRODUÇÃO

A língua de uma comunidade parte da necessidade de comunicação de seu povo. Segundo o site da Labeurb (Laboratório de Estudos Urbanos), para uma língua ser reconhecida ela precisa ter enunciado próprio e um funcionamento gramatical, além de ser diferente de outras praticadas em outros territórios e a Libras preenche todos esses requisitos. Nesse caso, o referido trabalho acadêmico parte da inquietação que surge ao conhecer a língua de sinais como matéria na faculdade. Após pesquisa sobre Libras e conversa com pais de crianças surdas surgiu o interesse em aprofundar neste assunto.

Com a inquietação, veio o questionamento: A Língua Brasileira de Sinais é a língua materna dos surdos e a segunda língua oficial do Brasil, por que não introduzir a LIBRAS no currículo das escolas, desde o ensino fundamental I para ouvintes e não ouvintes?
O objetivo geral desta resenha temática é demonstrar a importância da linguagem materna dos surdos, para a sua inclusão, desde o ensino fundamental I. Para isso, nos valeremos de objetivos específicos como: Comprovar a importância da escola no processo de inclusão social e pedagógica das crianças surdas e Analisar a importância dos pais como primeiros orientadores da Libras.
O contato destas crianças com a língua de sinais traz aos surdos identidade e confiança, e para os ouvintes uma forma de aprender sobre diferenças e como respeitá-las. No primeiro momento, apresentaremos um breve histórico sobre a trajetória de luta, para o reconhecimento de uma língua. No segundo, a reportagem referente uma escola pública que abriu as portas para o ensino de libras, com depoimento de professores e alunos ouvintes. No terceiro, falaremos sobre a importância dos pais das crianças surdas trazerem, para elas, o primeiro contato desde o início de suas vidas. No final do nosso trabalho, apresentaremos (através de depoimento de alunos e professores em duas reportagens distintas), o trabalho de duas professoras – uma na escola pública e outra na escola particular –, que tiveram a mesma preocupação: introduzir a Libras para crianças ouvintes em sua sala de aula.

DIREITOS IGUAIS PARA SURDOS E OUVINTES

Leonarlley Rodrigo Silva Barbosa (Proficiência no Uso e Ensino da Libras pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)), no artigo “A língua brasileira de sinais como inclusão dos surdos no sistema educacional”  (Revista Polyphonía, 2011) traz em primeira instância a trajetória de luta dos surdos pelo reconhecimento de uma língua própria para seu desenvolvimento educacional e social. Essa luta não era só dos surdos, mas também de educadores que percebiam a deficiência educacional e social dos alunos surdos quando saiam das instituições de ensino, já que, lá, a maioria dos educadores, valorizavam a oralização das pessoas surdas. No segundo momento, coloca a importância da Libras para a inclusão social e pedagógica.
Segundo o autor, baseado em Goldfiel(1997), apesar de ter sido aprovada em 2002 a lei que reconhecia a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS), esta luta vem desde o século XVI, quando começaram as discussões sobre métodos gestuais e a tentativa de formar educadores para utilização desses métodos. Um deles, segundo o autor, foi a datilologia (manualista), que tratava da representação manual do alfabeto para palavras que não possuíam sinais. Ele narra que, em 1880, num congresso realizado em Milão, o tema foi discutido pelos educadores presentes, e considerado como melhor metodologia para a educação dos surdos e, por ter pouca participação de professores surdos, foi-se decidido que o método seria a oralização. Com isso, conforme expõe, as escolas criadas para a orientação dos surdos pelo método manualista foram fechadas. O autor cita Goldfeld (1997) ao dizer que no Congresso Mundial de Surdos, em Paris, no ano de 1971, foi analisada nova filosofia de ensino dos surdos, que trazia como proposta a utilização de todas as formas possíveis de linguagem para a comunicação destes, incluindo gestos, língua de sinais, língua falada e escrita, alfabeto manual, leitura oral-facial, assim como aparelhos auditivos para a melhoria da fala.
O autor disserta que essa questão só começou a ser discutida no Brasil a partir de 1990, quando os pesquisadores da área começaram a salientar a importância da língua de sinais no espaço educacional. A aprovação de leis, como a 10.098 de 2000 (prévia a formação de interpretes), a 10.436 de 2002 (reconhece a Libras como meio legal de comunicação e expressão) e a 12.319 de 2010 (regulamenta a profissão de tradutor e interprete da Libras), privilegiam a língua de sinais como língua oriunda das comunidades surdas acarretando o reconhecimento de sua cultura e identidade. Enfatiza que a aprovação da Libras como língua, não foi só um ganho educacional, mas que gerou oportunidades que poderão ser usufruídas no cotidiano dos surdos.
Essas oportunidades podem vir em forma de geração de empregos, mais acessibilidade a cultura, e o convívio social como um todo. Além de acabar com o estereótipo de que seriam retardados e anti-sociais. Leonarlley Barbosa ressalta que o papel da escola é fundamental para difusão da Libras na sociedade. Muitas dessas crianças chegam à escola sem ter tido nenhum contato com sua língua materna e isso dificulta a sua interação com as crianças ouvintes. O autor reforça que se faz necessário o convívio, na instituição escolar, com profissionais surdos em todas as áreas porque, além de ser importante a interação das crianças surdas com as ouvintes, o contato com esses profissionais lhes trariam identidade e aprimoramento na sua língua materna, pois esses falam a língua de sinais de forma mais estruturada. No entanto, o autor afirma que as crianças precisam aprender o português e a Libras ao mesmo tempo, o que acaba por dificultar o aprendizado das duas línguas. Por esse motivo esse aparato seria de suma importância. Diz ainda que “a escola como espaço de democratização e de busca de conhecimento deveria dar mais importância ao ensino de Libras para os demais alunos e profissionais da comunidade escolar”, além de assegurar a formação constante dos professores para se atestar a qualidade do ensino dos surdos na escola, “bem como o processo de aquisição de conhecimento”.
Profissionais capacitados e com formação ou conhecimento em Libras é de suma importância para o desenvolvimento da linguagem na escola. Capacitar os seus profissionais, admitir profissionais surdos e bilíngues, facilitaria a inclusão destas crianças. A reportagem “Projeto ensina Libras para alunos, professores e comunidade do ES (TV Gazeta do Espírito Santo, colaboração de Camila Domingues), traz depoimentos que nos faz ver a importância do ensino de Libras nas escolas, para a inclusão social e pedagógica de seus alunos surdos, não só na comunidade escolar, mas principalmente com a comunidade do bairro e suas famílias.
Pelo que expõe a reportagem, a diretora da escola municipal Mariana Barcellos de Vila Velha, na Grande Vitória, Rosilene Vionet, acatou o pedido do professor Valdeir dos Santos, de ministrar aulas de Libras para as famílias e para a comunidade local. Não adiantava, segundo o professor, os alunos aprenderem a língua de sinais na escola e as pessoas em seu entorno não entenderem o que eles falavam. A diretora, então, resolveu abrir as portas da escola aos sábados para que fossem ministradas aulas para as famílias, a comunidade escolar e todos que desejassem participar.
Rosilene Vionet, explica que quando os quatro alunos surdos (idades entre 08 e 11 anos) chegaram à escola, ela sentiu a necessidade de aprender Libras para poder entender seus alunos. Já a professora Cristina Meireles diz que melhorou o rendimento dos alunos em sala de aula porque agora ela pode compreendê-los. A estudante Laisla Amaral, que tem dois irmãos surdos, disse que a comunicação com eles ficou bem melhor depois que começou a aprender a língua de sinais na escola. O que mostra que esse trabalho deve ser implementado, em outras escolas, para que se possa universalizar o ensino de Libras nas escolas públicas do país.
No artigo “A Importância da Língua Brasileira de Sinais – (Libras) como língua materna no contexto da escola do ensino fundamental” (Artigo da Univap), Alessandra Juliana Santos Uzan, Maria do Rosário Tenório Oliveira e Ítalo Oscar Riccardi Leon abordam aspectos relacionados à Libras e à necessidade de universalizar seu ensino nas Escolas Públicas do Brasil.
Os autores comentam que a língua de sinais é utilizada por grande parte da população surda no mundo e que no Brasil existem duas línguas de sinais: a utilizada pelos índios Kaapor (LSKB), que é um dialeto próprio e todos na aldeia utilizam a língua, desta forma os ouvintes são bilíngues e os surdos monolíngues e a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS), utilizada pela outra parcela da população. Como qualquer outra língua existente, a Libras possui uma estrutura gramatical própria, constituindo-se um sistema linguístico de transmissão de ideias e fatos, em forma de comunicação e expressão visual motora. Essa comunicação se dá de duas formas: uma com sinais manuais (posição e movimentação das mãos) e a outra, não manuais (expressões faciais e ou corporais). As duas formas são usadas, na maioria das vezes simultaneamente, porque a expressão facial ou corporal deixará mais fácil o entendimento de algumas expressões.
Quando é dito pelos autores que a sociedade, em geral, desconhece a importância dos surdos terem conhecimento primeiro da sua língua materna, para depois a língua majoritária do seu país, estão pensando no processo educacional destas crianças. Por serem, na maioria das vezes, filhos de pais ouvintes, elas ingressam na escola sem o conhecimento prévio, o que não acontece com crianças que têm as funções auditivas ditas normais.  Outras questões que precisam ser observadas, segundo os autores, são as propostas curriculares que atribuem valor apenas à norma padrão da língua portuguesa, não contemplando a diversidade linguística dos alunos. Os professores surdos estão em processo de formação e não têm representatividade no planejamento e na execução dos projetos políticos educacionais, já os professores ouvintes desconhecem, negam, ou marginalizam a língua de sinais. 
Essa negação de alguns professores pode se dá pela dificuldade de aprendizado de uma língua não comum, se a Libras fosse introduzida nas escolas da mesma forma que a língua inglesa, esses professores começariam a vê-la com mais frequência e desta forma passariam a olhar como um diferencial em sala de aula.
A Língua Brasileira de Sinais é o principal meio de linguagem para que as crianças surdas possam expor seu potencial e os autores deixam claro que, se expostos à Libras, desde o início de suas vidas, esses sujeitos teriam garantidos os seus direitos a uma língua de fato.
Apesar de ser considerada sua língua materna não é uma língua natural como a língua oral e por isso precisa ser apresentada. Seria necessário que os pais ao descobrirem a surdez dos filhos, tivessem o amparo do Poder Público, com instituições que oferecessem aulas de Libras para esses pais.
 Alessandra Uzan, Maria do Rosário Oliveira e Ítalo Leon concluem o artigo, dizendo que muito ainda precisa ser feito tanto pela sociedade quanto pelo Poder Público. A lei 10.436 reconhece a Libras como “meio de comunicação objetiva e de utilização corrente das comunidades surdas do Brasil”, então é dever do Poder Público introduzi-la como linguagem obrigatória nas escolas públicas. Alguns professores assumiram este trabalho de incentivo a aprendizagem da língua de sinais nas escolas públicas no intuito de ajudar os seus alunos no processo de inclusão. A reportagem de Neyara Pinheiro, com o título “Aluno surdo ganha apoio da turma: professora incluiu Libras no currículo” (Programa Fantástico, 11/12/2016), nos traz a história do menino Webert e seu processo de inclusão na escola que estuda.
Webert era um garoto de sete anos que ficava triste por não ser igual aos seus colegas e pela sua dificuldade de comunicação. A professora Josy Silva diz que ele se comunicava através de gestos, balbucios e gritos. A professora tentou ajudá-lo ministrando aulas de Libras, mas ele não se interessou porque não entendia o que estava acontecendo. Ela, então, resolveu desafiar a turma a aprender a língua de sinais, e todos aceitaram o desafio.
O garoto ao ver o que seus colegas faziam, resolveu fazer também, mostra a reportagem. O interesse partiu do momento que ele viu que poderia se comunicar e interagir com os seus colegas. Nyna dos Santos, colega de sala, diz que achou legal ajudar o colega nesta inclusão. Isabelle Araujo, também colega se sala, diz que ele não falava muito com os colegas, mas que agora ele fala com as mãos e participa das brincadeiras junto com as outras crianças do colégio. A professora deixa claro que eles não só estão aprendendo uma língua nova, mas aprendem também a respeitar, valorizar e aceitar o diferente. Para incentivar a turma, eles receberam no final do ano o certificado de conclusão do primeiro ano do curso de Libras.
O convívio com os familiares também melhorou, Rosângela Ismael Silva, mãe de Webert disse que queriam tirar a criança da escola por conta da deficiência, mas que ela foi à defensoria e disseram a ela que ele tinha direito de estudar em uma escola igual a todos.
A criança tem o direito à educação inclusiva, segundo a Constituição Federal de 1988, no Capítulo III DA EDUCAÇÃO, DA CULTURA E DO DESPORTO, sessão I, art. 208, inciso III (O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino) e a Lei nº 9.394/96 de Diretrizes e Base da Educação (LDB) no Titulo III, art. 4º, inciso III (atendimento educacional especializado gratuito aos educandos com deficiência (...) preferencialmente na rede regular de ensino).
Tanto as escolas públicas quanto as particulares devem receber crianças surdas e, preparar os demais alunos e profissionais da instituição para o contato com elas, é muito importante. A reportagem de Bruna Radtke “Crianças aprendem libras na escolar” (RICTV Record Itajaí, 04/04/2016) trata da iniciativa   de uma professora bilíngüe do SESI de Santa Catarina, que fez uma proposta aos alunos e estes abraçaram. Ela trouxe uma música e pediu que eles acessassem em casa para treinar, os alunos mostraram interesse e então ela começou a ensina algumas expressões mais usadas, exemplo pedir para ir ao banheiro.
A professora bilíngue, Rosana Gomes, da escola SESI do município de Itajaí, na cidade de Santa Catarina, lançou uma proposta no contra turno escolar, que era aprender Libras. As crianças, que tem entre 08 a 10 anos, abraçaram com tanto entusiasmo que se tornou um projeto. Ela disse que as crianças aprendem com muito mais facilidade do que os adultos a quem ela já deu aulas.
A professora bilíngue Rosana Gomes, da escola SESI do município de Itajaí na cidade de Santa Catarina, lançou uma proposta no contra turno escolar que era aprender Libras. As crianças de 08 a 10 anos, abraçaram com tanto entusiasmo que se tornou um projeto. Ela disse que as crianças aprenderam com muito mais facilidade do que os adultos a quem ela já deu aulas.
Na sala não possui aluno surdo, mas as crianças ouvintes estão empenhadas em aprender. O aluno Enzo Iastrenski Veneri diz que achou legal porque é uma língua diferente que vai facilitar a comunicação com pessoas surdas.


  CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conhecer a história de luta para o reconhecimento de uma língua faz com que vejamos o quanto foi importante para comunidade surda a LEI N.º 10.436 de 24 de abril de 2002, que reconhece como meio legal de comunicação e expressão a Língua Brasileira de Sinais - Libras - e outros recursos de expressão a ela associados. Ter uma lei que, além de reconhecer a sua língua materna, lhes tragam subsídios jurídicos para sua educação e saúde é muito importante.
Os artigos e reportagens apresentados nesta resenha temática fazem com que se pense sobre o processo de inclusão e não de integração das crianças surdas no ambiente escolar e social. Integração é inserir o aluno na escola de educação regular sem mudar sua estrutura física e organizacional. Inclusão é a escola se adaptar para receber esses alunos.
O processo de inclusão envolve toda a comunidade escolar. São necessários profissionais dispostos a aprenderem a Libras, além de contratação de equipe com a mesma deficiência, para que os alunos interajam com estes profissionais, assim como para que os outros participantes desta comunidade consigam tirar suas dúvidas e treinarem de uma forma mais estruturada. Todas as reportagens serviram para confirmar o pensamento de que a Libras pode ser usada como meio de inclusão no fundamental I, desde que professores e Poder Público se empenhem nesta tarefa.
Quanto mais cedo a criança surda tiver contato com a Libras, mais fácil será seu desenvolvimento pedagógico. O Poder Público, assim como a sociedade podem e devem criar ações nas escolas e demais instituições de ensino, no intuito de capacitar tanto a comunidade escolar como a família facilitando a inclusão destas crianças no meio social. Hoje já existe o teste da orelhinha, que pode detectar uma possível alteração no trato auditivo das crianças. Os pais, cientes desta dificuldade, deveriam começar a procurar instituições que oferecem, de forma gratuita, aulas de Libras e isso facilitaria o desenvolvimento pedagógico e social de seus filhos.

REFERÊNCIAS

BARBOSA, Leonarlley Rodrigo Silva. Língua Brasileira de Sinais como inclusão social dos surdos no sistema educacional. P. 173 a 188. Disponível em: <https://www.revistas.ufg.br/sv/article/view/21216>. Acesso em 14.02.2018

 

Constituição Federal - Planalto

Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>.  Acesso em: 27.04.2018.

 

Lei nº 10.436 - Planalto. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10436.htm>. Acesso em 14.02.2018.


LEON, Riccardi ; OLIVEIRA, Maria do Rosário Tenório; OSCAR, Ítalo; UZAN, Juliana Santos. A Importância da Língua Brasileira de Sinais – (Libras) como língua materna no contexto da escola do ensino fundamental. Disponível em: <www.inicepg.univap.br/cd/INIC_2008/anais/arquivosINIC/INIC1396_01_A.pdf>. Acesso em: 14.02.2018.

 

Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) - Labeurb

Disponível em: <https://www.labeurb.unicamp.br/elb/libras/lingua_bras_sinais.html>.
Acesso em: 16.01.2018.

 

Ministério da Educação - Ministério da Educação - Portal do MEC

Conselho Nacional de Educação – CNE. Educação Básica. Lei de Diretrizes e Bases da EducaçãoNacional (LDB) · Plano Nacional de Educação (PNE).

Disponível em: <portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/ldb.pdf>.  Acesso em: 14.02.2018.


Reportagem. In. G1, ES TV Gazeta.  Colaboração Camila Domingues. G1 Espírito Santo. 2015. Disponível em: <http://g1.globo.com/espirito-santo/educacao/noticia/2015/01/projeto-ensina-libras-para-alunos-professores-e-comunidade-do-es.html>. Acesso em: 15.01.2018

Reportagem. In G1 Teresina. Neyara Pinheiro, Henrique Bezerra. G1 Teresina. 2016. Disponível em:  <http://g1.globo.com/fantastico/noticia/2016/12/aluno-surdo-ganha-apoio-da-turma-professora-incluiu-libras-no-curriculo.html>. Acesso em: 14.02.2018.

Reportagem. In: RICTV Record Itajaí. Crianças aprendem libras na escola. Youtube. 2016. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=XAEFaxONQDQ>. Acesso em 15.01.2018.